Loveandpizza.it – Um romance em Napoli (Parte 9)
~ Borboletas (continuação) ~
Passei o final de semana pensando nele. Estava totalmente fora de mim, não conseguia me concentrar em nada, era como se estivesse em transe. Fiquei lembrando da sua voz, tão perto do meu ouvido, do seu hálito fresco soprando em meu pescoço. Sempre que pensava naquele momento no café, meu coração palpitava e eu me sentia fraca. Sentia quase uma necessidade física. Aquele beijo não durou mais do que alguns segundos, mas eu ansiava pelo calor, pelas borboletas. Pensei que, depois de Jean, nunca mais sentiria isso e que seria melhor virar celibatária. Imagina só… Bem, pelo menos nisso, eu estava errada. Eu tinha gostado, e muito, mas a sensação de estar fazendo algo errado estava começando a me irritar. Culpei a minha criação, e essa sociedade que diz para as meninas que elas devem se comportar de uma certa maneira. O desejo de independência e a pequena parte feminista de mim, começaram a se rebelar.
O que a gente tem, mulheres, que nos faz sentir tanto como o sexo frágil e a donzela em perigo que está apenas esperando para ser salva por um príncipe em um cavalo branco? Eu não queria ser essa mulher. Eu não queria ser aquela mulher que sacrifica seus desejos para que possa ter a consciência limpa. Por que é permitido apenas aos homens? Se esse é o sentimento, essa leveza dentro da minha cabeça, as borboletas no estômago, definitivamente quero mais disso! Quando foi a última vez que me senti assim? Jean, seu idiota. O que você fez comigo?
(***)
Na segunda de manhã, enquanto Lisa e eu estávamos no trem a caminho do trabalho, contei para ela.
‘Nos beijamos’, falei bem baixinho, em um trem lotado de estudantes decorando suas aulas de grego e latim.
‘VOCÊ O BEIJOU? QUANDO? COMO? ELE É BEIJA BEM?’
‘Shiuuuu. Lisa! Agora, por que não passamos em todos os vagões para que todos os passageiros do trem possam ouvir também? Pelo amor de Deus, você precisa gritar desse jeito?’
‘Desculpe, Carolina. Você me pegou de surpresa. Por que você só está me contando isso agora? Quando isso aconteceu?’
‘Foi na quinta-feira, depois da aula. Fomos em um café no centro histórico.’
‘QUINTA-FEIRA?! E SÓ AGORA VOCÊ ESTÁ ME CONTANDO?’
‘Ham ham!’
‘Ok, desculpe. Quem beijou quem?’ Ela estava tão animada que me senti mal por ter escondido dela.
‘Ele me beijou. E eu o beijei de volta por cerca de cinco segundos.’
‘VOCÊ CONTOU?’
‘Shiuuu, caramba Lisa! Não vou contar mais nada até voltarmos para casa. E se tiver alguém aqui que conheça ele? Lembra que vira e mexe encontramos o Dario neste trem?’
‘Tá bom. Tá bom. Vou ficar quieta.’ Falou sussurrando. ‘Agora, me conta tudo. Foi bom? O que aconteceu depois? Você vai sair com ele de novo?’
‘Sim. Eu o empurrei e gritei com ele. Eu não sei.’
‘Mas… não entendi … por que você o empurrou?’
‘Sei lá. Fiquei assustada. Talvez com medo?’
‘Com medo? Com medo do que, mulher?’
‘Lisa, deixa eu falar uma coisa. Depois de Jean, prometi a mim mesma que nunca mais me apaixonaria.’
‘Mas nunca…’
‘Eu sei. Nunca diga nunca. Blá blá blá. O problema foi que, sei lá, fiquei nervosa porque gostei daquele beijo. Eu realmente gostei. Mas não sinto nada mais por ele, Lisa.’
‘E daí Carolina? Ele gosta de você. Ele quer estar com você. Olha, vou te lembrar de novo do que me disse quando estávamos no avião, provavelmente sobrevoando o Atlântico. Você me disse que tentaria fazer as coisas de maneira diferente. Que tal começar a esquecer essa coisa de entregar seu coração a um cara assim que você o beija pela primeira vez? Puxa, você não precisa beijar um cara pensando que terá que se casar com ele, sabe?’
‘Mas Lisa, foi o que aconteceu. Nós nos beijamos e a única coisa que senti foi física. É isso que estou tentando te falar. Na hora fiquei assustada, mas agora passou. Ele é beija super bem e talvez eu não precise de mais nada, talvez não queira mais do que isso: um cara que me tire o fôlego com seus beijos. Um cara que gosta mais de mim do que eu gosto dele. Um cara que insiste em estar comigo. E se esse cara beija bem, é gatíssimo, podre de rico, tem um iate e quer me levar para um fim de semana em Capri… Quem sou eu para falar não?’
Lisa me olhou e tocou a minha testa, chocada com o que eu tinha acabada de falar: ‘Carolina, você está bem?’. E me chacoalhando pelos ombros, brincou: ‘Onde está minha amiga Carolina? O que você fez com ela?’
Caímos na risada.
‘Lisa, aquela Carolina já era. Aquela menininha inocente que você conhecia, não existe mais. Chega de princesinha, de “por-favor-salve-me-oh-cavaleiro-em-seu-cavalo-branco”. Estou cansada de me apaixonar cegamente e me machucar. A partir de agora, quero ficar com alguém, apenas pelo prazer de estar com essa pessoa. Eu acho o Luca super gostoso. Ele gosta de mim. E assim será.’
‘Uau! Se você diz, acredito em você’, ela disse com um certo tom duvidoso em sua voz. ‘Então, você vai falar para ele hoje?’
‘Falar para ele o quê?’
‘Dizer que você vai para Capri com ele, ué.’
‘Sim. Tenho certeza de que ele ficará na área após a aula. Desta vez não vou fugir.’
‘Good girl’, Lisa falou toda orgulhosa.
(***)
Chegamos a Alighieri mais cedo do que o normal e fui direto para a minha sala. Estava preparando a aula quando a Carla apareceu na porta.
‘Ciao, profe.’
O tom da sua voz era tudo menos amigável e apenas o som me fez arrepiar, sabe quando alguém arranha o quadro-negro com a unha?
‘Ah! Oi Carla. Você está bem? Não te vejo há um tempão. Você desistiu do curso?’
‘Não, na verdade, não. Apenas um monte de coisas acontecendo no momento. Estou procurando por Luca. Você não o viu, viu?
Que diabos…?
‘Não, não vi. Ainda é um pouco cedo para começar a aula. Você irá participar hoje ou quer que eu fale para ele que você passou aqui?’
Quê??? Cala a boca, Carolina!
‘Não, tudo bem. É que vamos nos encontrar para almoçar mais tarde e eu queria verificar com ele a que horas. Volto depois.’
Tinha certeza que ela só estava querendo ver a minha reação.
‘Tá bom.’ Olhei de relance para ela e voltei para minhas anotações.
Hummm… essa garota… não sei, mas posso jurar que ela é encrenca. Sem mencionar que é apaixonada pelo Luca. Que beleza. Tudo o que eu precisava agora.
Os estudantes foram chegando um a um. O Luca não apareceu. A aula foi ótima, como de costume neste grupo, mas minha mente não estava lá. Meio que esperava que ele viesse depois da aula, se desculpando por não aparecer como todo aquele seu jeito encantador de garotão, mas nenhum sinal dele. Nem da Carla. Tenho que confessar que fiquei um pouco decepcionada, mas tudo bem. Ele não está, ele não está.
Ele não foi a semana inteira.
(***)
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Beijão e inté a semana que vem!
Dani
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