Loveandpizza.it – Um Romance Em Napoli ( Parte 6 )
~ Ah, as delícias de ser professora ~
Gwen e Carl nos ajudaram na mudança e nos levaram a um supermercado, que ficava ali perto. Eles nos convidaram para almoçar, mas dissemos que não podíamos. Explicamos que ainda tinha muita coisa para gente ajeitar antes das aulas começarem na segunda-feira.
Limpamos, organizamos nossos livros – que eles trouxeram no carro, fiz um macarrão rapidinho e saímos para passear um pouco e procurar as casas dos nossos alunos. Como já tínhamos os endereços, achamos que seria bom já sabermos onde ficavam, para não chegarmos atrasadas nas primeiras aulas.
Fomos até a estação de metrô Chiaiano e seguimos em direção aos endereços de Lisa. Ela iria trabalhar em uma área diferente da minha. Seus alunos estavam mais na região da Piazza Dante, do centro histórico e em Vomero, enquanto minhas aulas seriam mais para o lado da Riviera di Chiaia e, também, em Vomero. Eu poderia caminhar até a maioria das minhas aulas ou fazer um pequeno trajeto de funicular. Precisaria pegar o ônibus apenas duas vezes por semana, o que eu achava ótimo. Um dos meus alunos morava perto da Villa Comunale, e eu poderia fazer uma boa parte do caminho de volta ao metrô a pé, andando perto do mar, na Via Caracciolo e Via Partenope.
Assim passamos o nosso final de semana. Literalmente, indo de um lugar para outro, encontrando as casas de nossos alunos e cronometrando nossa jornada entre uma e outra. Foi bem fácil e interessante. A gente estava andando por ruas tão escondidas, estreitas e escuras, que se não fosse pelos nossos estudantes, eu jamais chegaria perto.
A noite de domingo chegou e Lisa e eu estávamos prontas para o grande dia. Sem TV e ainda sem Internet, depois da janta, escolhemos alguns livros entre aqueles que Gwen e Carl nos emprestaram e nos sentamos na varanda para ler e conversar.
‘Você acha que eu me sairei bem?’, perguntei. ‘Nunca ensinei nada na minha vida.’
‘Claro que sim, boba. Não se preocupe. Você vai tirar de letra. A maioria das suas aulas será individual, não há muito que possa dar errado. E, além disso, já te falei que te ajudo, lembra?’
‘Eu sei, mas, e as aulas na empresa, que começam logo amanhã de manhã? Vou ensinar um grupo inteiro. E se eles forem pessoas horríveis e perceberem que não sou professora? O que eu faço?’
‘Bem, é você quem manda na sala de aula. Finja que sabe o que está fazendo e continue. Confie em mim: os primeiros dias são terríveis. Até mesmo para mim. Tenho certeza de que, assim que passarem as primeiras aulas você irá se esquecer de tudo isso e ficará bem. Confie em mim’, Lisa sorriu e me deu um abraço.
(***)
‘Deus meu… Olha a hora, Lisa! Vamos nos atrasar!’
‘Calma, Carolina. Não vamos nos atrasar. Está tudo certo. O que me preocupa é essa chuva. Iremos é ficar encharcadas, isso sim. Caramba! Eles falaram que Nápoles tinha um clima ótimo! Certamente, ótimo clima para peixes, golfinhos e sereias. Vamos, Carolina. Pegue seu guarda-chuva. Teremos que arriscar ou chegaremos atrasadas de verdade.’
‘Maravilha. Primeiro dia de aula e eu irei chegar parecendo uma bruxa. Meu cabelo definitivamente não é à prova d’água. Aff…’
Eu não podia estar mais certa. Chegamos à estação de metrô Chiaiano e os trens estavam lotados. Viajamos de pé como uma sardinha enlatada, por cerca de trinta minutos até Dante. Era hora da escola, trabalho, e tudo mais, menos, para que a chuva parasse. Quando chegamos na estação, estava morrendo de medo de que meu cabelo ganhasse vida própria e que fosse me matar, como as cobras na cabeça da Medusa.
Saímos da estação, os guarda-chuvas abertos novamente, mas a chuva estava tão forte que não fazia diferença. Chovia horizontalmente, se é que você me entende, meus jeans e meus sapatos estavam encharcados. Que ótima impressão eu daria logo no meu primeiro dia de trabalho.
Era uma caminhada de quinze minutos entre a Piazza Dante e os escritórios do Grupo Alighieri, perto do porto. Lá chegamos e perguntamos à deslumbrante recepcionista loira para onde deveríamos ir, ela nos olhou de cima a baixo. Explicamos que éramos as novas professoras de inglês e ela olhou para nós como se dissesse: Sério? Pensei que vocês estivessem aqui mendigando. Preciso dizer mais?
Ela nos mostrou o caminho. Lisa e eu falamos ‘boa sorte’ uma para a outra e fomos cada uma para o seu canto. Fiquei tão aliviada ao ver que minha sala ainda estava vazia, que senti vontade de chorar. Era uma daquelas enormes salas de reuniões com uma grande mesa oval e minha cadeira era linda, como a de um CEO. O único problema era que eu não podia me sentar. Não com minha calça jeans encharcada.. Porra, Carolina, como você vai disfarçar a razão pela qual você não está sentada, sua besta? Já sei, ande em volta da mesa, finja que você está querendo conhecer os alunos e tudo o mais. Enquanto caminhava para me familiarizar com o ambiente e me acalmar, tudo que podia ouvir era o blosh blosh blosh dos meus sapatos encharcados. Ops, não é uma boa ideia. É melhor eu ficar parada na cabeceira da mesa.
Meus alunos chegaram um de cada vez. Eram seis no total; uma moça e cinco rapazes. Eles pareciam muito amigáveis, e um deles era incrivelmente bonito. Carolina, Carolina… foco, por favor. Havia preparado uma atividade para começar a aula e pedi a eles que se apresentassem. Um por um, eles disseram seus nomes, seus cargos na empresa e porque estavam aprendendo inglês. Até agora eu tinha Carla, Augusto, Paolo, Luca e Massimo. Quando chegamos ao último, que estava sentado perto de mim:
‘Então, como você se chama?’, perguntei.
‘Darrrio’, respondeu ele com um ‘r’ super carregado com o sotaque francês.
‘Ah, você é francês?’, questionei sorrindo.
‘Não.’, ele respondeu concisamente.
‘Mas você fala francês fluentemente?’, insisti, ainda sorrindo, tentando parecer amigável e impressionada com as suas habilidades linguísticas.
‘Não.’, respondeu de novo e com um tom irritado. ‘Eu tenho um prrrrroblema quando falo’.
Devo ter ficado pálida quando ele disse isso. Só queria morrer ou pular pela janela e correr para muito longe dali. O silêncio foi quebrado por um dos rapazes rachando de rir. Qual o nome dele mesmo? Ah! Luca. Espere até fazer o primeiro exame, senhorzinho. Você irá se arrepender desse dia. Quase o matei com os olhos e ele parou de rir. Eu me voltei para Dario:
‘Sinto muito, Dario. Eu não quis ofender…’
‘Não se prrrrrreocupe, prrrrrrofessora. Eu entendo’, e sorriu.
Bem, desta vez não pude deixar de rir. E todo mundo caiu na risada também, incluindo Darrrio. Foi uma adorável primeira lição.
A aula voou. Uma hora e meia passou sem que eu percebesse, quando vi já estava na hora de ir embora. Eu continuava ensopada da chuva. Por sorte dava tempo de voltar para casa, tomar um banho e me trocar antes das aulas da tarde.
Os alunos já tinham saído e eu estava juntando minhas coisas quando notei alguém na porta. Olhei para cima e vi Luca. Ele estava sorrindo. E que sorriso! Ele era alto e parecia muito inteligente em seu terno azul-marinho. Ele tinha olhos verdes penetrantes, um rosto esculpido, um nariz e lábios perfeitos que imploravam para ser beijados. Seu cabelo era castanho escuro, curto e arrumado. Ele parecia um Deus grego. Carolina, foco!
‘Oi, Luca. Você esqueceu alguma coisa?’
‘Não, professora. Eu só queria pedir desculpas pela minha gargalhada àquela hora.’
‘Ah! Não tem problema. Acho que eu também não iria conseguir me controlar. Está tudo bem. Estou bem agora’, falei, sem nem olhar para ele. Ele era realmente atraente e eu sempre amei um homem de terno. Carolina, Carolina… Pare.
‘E você será nossa professora por quanto tempo? Não acho que a outra professora gostou da gente, ela só ficou por um ano. Espero que você fique mais.’
‘Bem, não estou planejando ir a lugar algum’. Foi tudo o que consegui responder. Não era mentira, era? Eu realmente não sabia o que ia fazer depois de um ano.
‘Ótimo. Esperava mesmo que você me respondesse isso.’
‘Por quê?’
‘Nada professora. Nada. Mas, adorei saber. Preciso ir agora. Até amanhã!’ E ele jogou um beijo e saiu.
Ah… esses italianos são todos loucos. Isso é o que são.
(***)
Felizmente, a semana terminou de maneira agradável e, na noite de sexta-feira, Lisa e eu tínhamos uma coleção de histórias cômicas para contar. Na Alighieri, minha única aluna, que devo admitir, acho que não gostava muito de mim, agora tinha duas novas companheiras de classe: Federica e Giulia, duas moças adoráveis. Além disso, e daquele lindão do Luca, que insistia em dar um beijo de despedida em mim, não acontecia nada de mais. Já Lisa teve uma semana muito movimentada.
Em algumas casas, os alunos costumam ter suas aulas em seus quartos, que geralmente eram enormes e equipados com todos os acessórios que um professor poderia sonhar para uma sala de aula. Um dos alunos de Lisa, o Enzo, um moleque de dezessete anos, era um deles. Seus pais viajavam muito a trabalho e ele ficava com a avó e a empregada doméstica. No primeiro dia, a empregada mostrou a Lisa o caminho para o quarto. Tudo estava indo muito bem, até Lisa sair para ir ao banheiro. Quando voltou ao quarto, para o seu espanto, ela encontrou o garoto só de cueca! ‘Ufa! Está rrrrealmente muito quente, não está prrrrofessora?
Lisa ficou tão chocada que saiu do apartamento sem dizer uma palavra. Por sorte, era a sua última lição naquele dia. Quando chegou em casa, ela caiu no sofá-cama chocada demais para dizer qualquer coisa para mim, mas ligou chorando para a Gwen.
‘Gwen, por favor! O que aconteceu naquela casa? Aquele garoto é completamente louco! Eu senti vontade de bater nele, como em um filho que, agora, provavelmente nunca terei!’
Ela estava no viva-voz, e eu pude ouvir a Gwen dizer:
‘Primeiramente, se acalme, querida.’
Lisa estava chorando tanto que não conseguia falar, então peguei o telefone.
‘Gwen, isso não está certo! Onde estão os pais desse garoto? Quero falar com esses dois!’
‘Carolina, querida, já falei com a avó dele. A empregada contou o que havia acontecido e ela me ligou imediatamente. Eu estava tentando ligar para a Lisa, mas o telefone dela estava desligado.
‘Bem, ela está aqui agora e parece tão chocada e com raiva que eu não a culparia se ela quisesse voltar para casa no próximo voo. Por favor, Gwen, você não a mandará de volta para aquela casa, né?’
Lisa me olhou, esperando a resposta da Gwen, com os olhos e nariz vermelhos.
‘Não, querida. Não vou. Vou, pessoalmente, levá-la lá para que Enzo possa se desculpar na frente de seus pais, avó e empregada. Lisa, amor, prometo que você nunca mais o verá depois disso. Podemos fazer assim?’
Lisa se sentiu um pouco melhor depois de falar com a Gwen. Ela estava com raiva, com muita raiva, e continuou andando pela pequena casa murmurando consigo mesma sobre o garoto; em inglês, em português e tenho certeza de que ouvi um cazzo ou dois.
O resto do mês seguiu normalmente. A raiva de Lisa pelo episódio com o seu aluno deu lugar a risadas; quanto a mim, ainda estava tentando escapar dos flertes do Luca, dentro e fora da sala de aula. Carla ficou um tempo sem ir e, graças a isso, eu não sentia mais que estava sendo mensurada e avaliada da cabeça aos pés. Ela era uma garota bonita. Cabelo loiro comprido e sedoso – loiro tingido – e muito alta. Ela tinha olhos azuis brilhantes e parecia ser muito mimada. Percebi pela sua voz e pela maneira que falava com os seus colegas. Eu me perguntava com quem ela trabalhava na empresa, para ser tão atrevida e ter aquele ar de “eu sou mais importante do que você”. Falei para a Lisa que podia jurar que ela gostava do Luca, mas, contanto que eu não tivesse que ver seu rosto irritante todos os dias, eu não estava nem aí.
Então começamos a planejar nossos passeios: o primeiro deles seria Ercolano.
(***)
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Beijão e inté a semana que vem!
Dani
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