Loveandpizza.it – Um Romance Em Napoli (Parte 2)
Seria incrível se a gente pudesse pesar as coisas que não vão dentro da mala. Minhas malas carregavam um dicionário italiano-inglês, um guia de Nápoles, dois casacos, algumas blusas mais quentinhas e muitas roupas mais leves (afinal, todo mundo falava que em Nápoles faz muito calor no verão!), alguns CDs, uma bandeira brasileira, sapatos e bolsas (Ué, o que foi? Eu sou uma mulher!)… Mas se no aeroporto tivessem pesado meus sonhos, medos e expectativas, certamente eu teria que pagar excesso de bagagem!
Estava sonhando com céus ensolarados, azuis, claros; castelos, vulcões e cidades engolidas por eles; cappuccinos e gelato e cornetto e pizzas; belas praias e muita história. Eu estava sonhando com romance. Em conhecer meu Adonis (Ops, acho que ele era grego?). E passeios de vespa ao pôr do sol… Romântica Irremediável é o meu segundo nome, lembra?
Bem, depois de um adorável final de semana com a Clara e seu marido em Londres, finalmente chegamos a Nápoles. Era por volta das oito e meia da noite e, durante a corrida de táxi do aeroporto para o B&B, fiquei em choque! Jamais esperaria aquilo. A autoestrada estava escura e movimentada; o motorista dirigia rápido demais para o meu gosto. Meu sonho de prédios históricos foi pelo ralo pela visão do que parecia ser uma das periferias de São Paulo, um amontoado de prédios antigos e feios, ruas sujas. Tudo estava muito sinistro e estranho. Sem mencionar a chuva forte. Tudo que eu conseguia pensar era no meu indomável cabelo cacheado, na bagunça que ele ficaria na maior parte do dia, e na trabalheira que me daria enquanto eu estivesse por aqui.
‘Lisa, quero voltar para casa’, sussurrei.
‘Eu sei. Este lugar parece horrível!’
‘E se tudo isso for realmente um grande erro? Deixar tudo para trás?’ Tudo o que queria naquele momento era voltar para a segurança da minha vida, para o meu trabalho e para a casa dos meus pais.
‘Bem, nós já estamos aqui, certo? Vamos esperar até a manhã e fingir que somos apenas turistas por alguns dias. O pior cenário será o de considerarmos isso como umas férias e voltarmos para casa’, respondeu. Eu senti como se ela estivesse apenas tentando parecer positiva.
‘É, acho que você está certa.’ Comecei a entrar em pânico e tentei pensar em coisas legais: sorvete, pizza, romance… Não, Carolina. Romance, não.
Chegamos ao endereço indicado pelo pessoal do B&B, mas para piorar as coisas, não havia número no prédio. O taxista estava ficando impaciente:
‘Ma dove è questo B&B, signorina?’
‘È… Qua, signore: San Arcangelo a Baiano, ventiquattro. Lisa, por favor, me ajude.’
Lisa bateu na porta daquele que pensávamos que fosse o lugar certo e um homem simpático atendeu. Ele se parecia com o meu pai e eu me perguntei se isso seria algum sinal.
‘Ciao, signorina. Mi chiamo Gennaro. Bem-vinda ao I Colori di Napoli’, disse com um grande sorriso.
O taxista começou a tirar nossas malas do carro murmurando algo, penso que em napoletano, o dialeto falado na cidade.
‘Sono 38 euro’, estendeu a mão em minha direção, esperando pelo dinheiro.
‘Grazie’, disse e logo o paguei.
Lisa já estava falando com Gennaro, que felizmente falava um pouco de inglês.
‘Vieni, vieni, ragazze. Seu quarto fica no terraço.’
Eu sorri ao ouvir seu inglês improvisado. Terraço? Uuuuhhhh… Olhei para Lisa e ela piscou.
‘Viu, tudo tem um lado positivo.’
‘Sim, sim. Quais as chances de tudo ficar tranquilo a partir de agora, não é mesmo?’
Eu estava certa. Nosso “quarto no terraço” ficava no último andar. Não tinha elevador, apenas uma escada estreita e em espiral. Malas pesando trinta quilos cada uma. O pobre signor Gennaro, com mais de 70 anos, nem se ofereceu para carregá-las escada acima. Nós mesmas que tivemos que levá-las.
O quarto era lindo. O nome do B&B, I Colori di Napoli, era perfeito. Cada quarto era pintado de uma cor diferente. Nosso quarto chamava Dolcezza (doçura) e era todo pintado e decorado em lilás. Tínhamos um banheiro pequeno, mas limpo, um armário pequeno e uma porta de vidro para o terraço compartilhado. Abri a porta e saí. Não chovia mais.
‘Lisa! Corre, vem aqui. Você não vai acreditar!’
Ela correu para fora.
‘Uau!’
Podíamos ver uma parte da marina e as luzes ao longo do porto. Havia também dois navios de cruzeiro lá.
‘Eu sei! Mal posso esperar para ver à luz do dia. Agora, vamos pensar em algo para comer? Estou faminta!’
‘Eu também. Então, minha querida parceira de aventura, do que você gostaria?’
Olhei para ela incrédula.
‘Como assim, Lisa, o que eu quero? Pizza, é claro!’
Nos abraçamos e rimos.
Meia hora depois, voltamos ao B&B. Ainda famintas, mal-humoradas e já tendo aprendido a lição de que não se anda pelo porto de Nápoles às dez horas da noite. Especialmente se você é uma mulher. Homens italianos são muito atrevidos.
Passamos pela cozinha, já admitindo derrota e com a certeza de que iríamos dormir de estômago vazio, mas com uma pequena esperança de encontrar alguma comida na geladeira.
‘Carolina, olhe. A mesa já está posta para o café da manhã!’
Não pensamos duas vezes.
Só posso dizer que tivemos uma primeira noite muito confortável e feliz no B&B, depois de comermos dois cornetti com Nutella e beber um pouco de suco, dormimos como dois anjos, com aquele barulhinho gostoso da chuva.
(***)
Você está lendo o meu romance Loveandpizza.it no formato “série”. Ele foi originalmente escrito e publicado em inglês, mas aqui neste site eu o apresento com a tradução de curadoria de Farah Serra. Espero que vocês gostem. E pra você não perder nadinha dessa aventura pela bella città, você pode se cadastrar pra receber um email toda semana quando mais um capítulo for publicado. Além disso, quando você se cadastrar, ganha de presente três marcadores de livros com fotos e frases sobre Nápoles pra imprimir, usar, guardar ou dar de presente. Se cadastre rapidinho clicando na imagem abaixo.
Beijão e inté a semana que vem!
Dani
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