~ Um caso com o chefe ~
Não podia acreditar, ele estava mentindo para me encontrar. Eu não sabia se isso era bom ou ruim. Mas, para ser sincera, não me importava. A nova Carolina não estava nem aí. Ela estava deixando rolar. Peguei minhas coisas, fui ao banheiro, penteei os cabelos, retoquei a maquiagem, borrifei um pouco de perfume e eu estava pronta. Não há mais menininha inocente, lembra?
Ele estava atrasado. Que belo começo, Luca. Ótimo começo. Ele chegou dez minutos, atrasado.
‘Desculpa professora. Não consegui me livrar da Carla. Ela continuou fazendo todas aquelas perguntas. Acho que desconfia que vim te encontrar.’
‘Luca, de boa, não quero falar sobre a Carla. Podemos ir? Estou faminta.’
‘Ah, claro! Vamos então! Quer uma pizza?’
‘Não, na verdade, não. Prefiro algo mais leve. Que tal irmos naquele café?’
‘Hummm… Perfeito. Daí nos sentamos no andar de cima, onde ficamos só nós dois? O que você acha, professora? Sou gostoso demais para resistir, né?’
Deus meu, ele está abusando da sorte. Ignore, Carolina. Pense nos beijos. É tudo o que você precisa pensar agora.
‘Ah, Luca, cala a boca, vai. Eu realmente gosto de lá.’
‘Ok, ok. Não falo mais nada.’ Ele riu.
Andamos em silêncio. Chegamos ao Scaturchio, subi as escadas enquanto Luca falava com o barista.
Quando subiu, ele se sentou coladinho em mim. Lembrei-me da última vez que fomos lá. Quando o barista caminhava em nossa direção para anotar nossos pedidos, o Luca me abraçou e me puxou para mais perto dele, como se estivesse me exibindo. Pedimos e quando o barista saiu, ele me olhou.
‘Então, por que você quis vir aqui comigo? Pensei que da última vez tivesse deixado bem claro que não era para eu nunca mais fazer aquilo. Agora? Você mudou de ideia e quer que eu te beije de novo?’
‘Luca, sabe qual é o seu problema? É que você não sabe quando parar de fazer piadas. Eu quis vir aqui hoje porque queria te falar que topo ir para Capri com você. Se você ainda quiser que eu vá, é isso.’
Seus olhos brilharam como duas estrelas enormes.
‘Sério??? Ah, professora, você fez o meu dia!’, ele me abraçou.
‘Ok, mas vamos combinar uma coisa. Você precisa parar de me chamar de professora, Luca, pelo menos fora da sala de aula. Sinto que estou cometendo um crime quando você me chama assim.’
‘Isso eu posso fazer. Carolina. Carolina. Viu?’
‘Assim é melhor. Agora me diga. Quem mais vai para Capri?’
‘Ah, pouca gente. Minha irmã com algumas amigas, minha prima com alguns amigos, mas eles ficarão na casa dela, a Carla, o irmão dela e um casal de amigos deles.’
‘A Carla? A Carla lá da Alighieri?’, me desanimei.
‘Sim. Sabe, ela é uma velha amiga da família. Nossos pais são amigos desde sempre. Praticamente crescemos juntos, frequentamos a mesma escola e a mesma universidade, nossas famílias costumam viajar juntas nas férias. Sei que, às vezes, ela é meio chata, mas é inofensiva. Além disso, se eu não a convidasse, nossos pais se perguntariam o que havia acontecido.’
Silêncio. Eu estava pensando e quase desistindo. Isso não era normal, era? Na minha cabeça, construí todas aquelas tramas que costumava ver nas novelas brasileiras, das famílias ricas que praticamente casam seus filhos. Eu me perguntei se era isso que os pais do Luca e da Carla tinham em mente a vida toda. Descartei essa possibilidade. Carolina, você e suas teorias da conspiração.
Nossos sanduíches chegaram e, enquanto eu pegava a cebola com muito cuidado para não perder nem um pedacinho, ele segurou minha mão.
‘Professora, quer dizer, Carolina, você ainda vai comigo para Capri, não vai?’
Ah, Carolina. Não deixe essa Carla fazer você desistir desses beijos.
‘Sim, vou. Quando vamos?’
Ele abriu um sorriso enorme.
‘No próximo final de semana, você pode ir ou já tem outro compromisso?’
‘Por mim tudo bem. Posso convidar a Lisa para ir? Ela adoraria conhecer Capri.’
‘Claro. Quanto mais gente melhor. Mas, essa era a única razão pela qual você queria que eu viesse almoçar com você hoje? Tem certeza?’, ele se aproximou.
‘Na verdade, não’, brinquei com ele. ‘Também posso fazer isso, sabia?’ Falei em seu ouvido e lentamente movi meus lábios pela sua bochecha e boca.
‘Ah, Carolina! Quero ir para Capri agora mesmo.’
‘Bem, agora não podemos ir, mas sei de uma coisa que podemos fazer…’ E nos beijamos. E beijamos. E beijamos um pouco mais.
(***)
Os dias se passaram e foi tudo bem com o trabalho. Lisa e eu tínhamos decidido nos mudar do nosso ‘pedacinho do céu’, um pouco pela distância que a gente precisava percorrer todos os dias para ir trabalhar, mas também pelo quão ‘assustador’ era nosso locador.
Uma noite, Lisa me contou que quando chegou do trabalho deu de cara com o Sr. Rocco assim que abriu o portão de casa. Estava tudo escuro, com exceção da luz da parte inferior da escada da entrada, e ele estava ao lado do portão dentro do nosso jardim! Ela me falou que quase teve um ataque cardíaco quando ele disse Ciao. Imagine, ele estava lá apenas para receber o aluguel. Lisa estava bem incomodada quando me contou e naquela noite, depois de fazer outra lista de prós e contras, decidimos que seria melhor morar mais perto do centro. E mais perto do trabalho.
No dia seguinte, fomos encontrar a Gwen e o Carl. Eu ainda não tinha contado para a Gwen sobre o Luca. Estava refletindo se era uma boa contar agora ou esperar um pouco mais, para ver o que iria rolar de verdade.
Tocamos o interfone.
‘Sim?’, atendeu a Gwen.
‘Gwen! Somos nós, Lisa e Carolina’, dissemos em uníssono e rimos.
‘Ah, subam, queridas.’
‘Você acha que ela levará de boa da gente pedir isso?’, perguntei.
‘Não sei. É um pouco atrevido, eu sei, mas não consigo pensar em outra pessoa para pedir, você consegue?
‘Bem, tem o Luca, mas não queria envolvê-lo’, falei.
‘Então temos que tentar. Tenho certeza de que eles já fizeram isso várias vezes. Vamos lá, vamos colocar nossos melhores rostos de cachorros sem donos brasileiros e conversar com eles’, falou Lisa, ‘antes que eu desista.’
Gwen foi amigável e acolhedora, como sempre.
‘Entrem, queridas. Como vocês estão? Está tudo bem?’
‘Sim’, respondi e Lisa me deu uma cotovelada. Eu continuei:
‘Bem, na verdade, não. Quero dizer, está, mas precisamos te pedir uma coisa.’
‘Ah, não! Não me digam que vocês já se cansaram e que estão voltando para casa antes do fim do contrato? Vocês não podem fazer isso. Vocês são ótimas. Seus alunos as adoram.’ Ela piscou para mim e eu corei, me perguntando se ela já sabia.
‘Não Gwen. Não se preocupe. Não é nada disso. Estamos adorando aqui e queremos ficar. É só que queremos sair lá de Chiaiano. Queremos morar mais perto do centro e do trabalho.’ Lisa completou.
‘Ah! Tá bom. Por que vocês me não falaram antes? Quase tive um infarto.’
Gwen geralmente exagerava um pouco nas coisas, Carl já tinha falado pra gente sobre isso, e os dois sempre brincavam quando acontecia.
‘Então, você pode nos ajudar? Quero dizer, encontrar um lugar aqui por perto?’, Lisa tentou.
‘Eu não posso querida, desculpe.’
Lisa e eu nos entreolhamos, meio que em pânico.
‘Mas certamente Carl pode’, ela sorriu, tirando o celular do bolso para ligar para ele.
‘Ufa! Obrigada, Gwen. É que nós não temos ideia de como lidar com essas coisas. Além do mais, já sabemos que os proprietários não costumam falar com as mulheres que alugam suas casas.’
Lisa concordou: ‘Eu sei , eu não quero ficar tratando no escuro, com uma sombra enorme e assustadora atrás do nosso portão, dentro do jardim, esperando o pagamento do aluguel.’
Gwen não entendeu. ‘Do que você está falando?’
Lisa e eu nos entreolhamos e rimos.
‘Nada para se preocupar, Gwen. Depois te contamos.’
Gwen falou com Carl. Ele disse que nos ajudaria, sendo nosso fiador. Tudo o que precisávamos fazer era procurar alguns apartamentos e voltarmos no dia seguinte para mostrar a ele, para que pudesse agendar as visitas. Ele também disse que conversaria com o Sr. Rocco, e que isso não deveria ser um problema.
Ficamos um pouco mais e Gwen fez um café para nós.
‘Então, Carolina, ouvi que você caiu no feitiço de Luca, hein?’, ela riu.
Olhei para Lisa, que imediatamente balançou a cabeça.
‘O que você quer dizer? Quero dizer, como você sabe? Meu Deus, que vergonha.’
‘Tenho minhas fontes’, ela brincou e continuou, ‘o Luca é um encanto, Carolina. Charmoso até demais, eu diria. Ele é lindo, não é?’
‘Espere um pouco, Gwen. Então, você sabia esse tempo todo? Quero dizer, isso não é um problema para você?’
‘Sim, querida. Contanto que você me prometa duas coisas.’, parecia uma coisa séria.
‘Para você, chefe, qualquer coisa. Apenas me fale.’, sorri.
‘Não deixe que isso interfira no seu trabalho’, falou ainda em tom sério.
‘Certo. Não deixarei. Não faremos nada dentro da Alighieri’, prometi. ‘Qual é a segunda coisa?’
‘Ah, querida, a outra coisa é a mais importante e a mais difícil.’
Fiquei intrigada.
‘O que é, Gwen?’
‘Apenas tenha cuidado, ok? Quero dizer, já vi um coração partido antes e ouvi falar de mais alguns.’
‘O que você está dizendo? Quem?’
‘Desculpe, Carolina, mas não cabe a mim, contar. Prometa que vai se cuidar.’ Ela segurou minha mão.
‘Eu prometo, Gwen. Obrigado por me dizer, de qualquer modo.’
‘Ok, então me contem o que vocês estão fazendo? Vocês foram em algum lugar interessante ultimamente?’, Gwen mudou de assunto de repente.
Contamos para ela sobre Herculano e Pompéia, e também que estávamos morrendo de vontade de ir a Sorrento. De alguma forma, ela sabia sobre Capri e nos disse que uma vez viu Mick Jagger, o que fez Lisa querer ficar lá por um mês inteiro, só para garantir.
Conversamos por cerca de uma hora e então deu a hora de irmos embora. Nos despedimos e combinamos de voltar amanhã depois das aulas da manhã, com alguns apartamentos que gostaríamos de ver.
Na saída, não consegui resistir, me virei e a perguntei: ‘Gwen, como você ficou sabendo sobre o Luca?’
‘Er…. pelo Luca!’, ela sorriu, acenou e entrou.
(***)
Você está lendo o meu romance Loveandpizza.it no formato “série”. Ele foi originalmente escrito e publicado em inglês, mas aqui neste site eu o apresento com a tradução de curadoria de Farah Serra. Espero que vocês gostem. E pra você não perder nadinha dessa aventura pela bella città, você pode se cadastrar pra receber um email toda semana quando mais um capítulo for publicado. Além disso, quando você se cadastrar, ganha de presente três marcadores de livros com fotos e frases sobre Nápoles pra imprimir, usar, guardar ou dar de presente. Se cadastre rapidinho clicando na imagem abaixo.
Beijão e inté a semana que vem!
Dani
Voltar à página principal