Sempre adorei escrever e tinha uma grande imaginação. Lembro que uma vez, estava no ensino médio, participei de um concurso de contos da revista Nova. Isso já faz tanto tempo, que só pra vocês terem uma ideia, eu tive que pedir a um cara que trabalhava com meu pai para datilografar o conto, pra mandar pelo correio! Era uma história meio atrevida, então, embora eu estivesse envergonhada pra caramba de pedir pra ele digitar, não havia outro jeito. Era melhor do que pedir pro meu pai, né? Havia um número limitado de palavras que eu poderia usar e tive que condensar minha imaginação fantástica em uma folha de papel A4, tamanho de fonte 14. Não tenho ideia do que aconteceu com a história – não guardei uma cópia, dã! -, mas ainda me lembro de algumas coisas, e talvez um dia eu tente reproduzi-la.
Com Loveandpizza.it, foi totalmente diferente. A história era MINHA, eu estava literalmente vivendo dentro da história e poderia escrever quantas palavras eu quisesse. Além disso, havia tanta coisa acontecendo ao meu redor, tantas coisas e lugares para explorar! Super fácil, pensei. Bem, na verdade não. A história “fácil” de escrever levou mais de CINCO anos para terminar, e outra competição, o NaNoWriMo (tradução livre: “Mês Nacional de Redação de Romances” ). Mas eu te conto sobre isso outra hora.
Antes de fazer meu mestrado, eu estava “brincando” de escrever. Escrevia quando queria, quando a inspiração batia … Faltava disciplina, organização e bem, não estava mais em Napoli. Foi então que decidi que precisava fazer algo, ou Loveandpizza.it, Carolina, Lisa, Luca e Fabrizio nunca veriam o exterior do disco rígido do meu laptop! Armada com meus contos (você já os leu? Eu os tenho “escondidos” aqui.) e meu melhor sorriso, lá fui eu para encontrar aquele que se tornaria meu tutor, na Cardiff Met Uni. Em setembro daquele ano, entrei no curso e, ah, meu Deus, como dizia minha mãe: o buraco era bem mais embaixo…
(Pra me ajudar nesse texto, coloquei abaixo alguns trechos da minha dissertação de mestrado)
Para um dos meus primeiros trabalhos do curso, li o seguinte trecho, do livro The Creative Writing Handbook (tradução livre, tá, gente?):
Há mil anos atrás, tínhamos cerca de 30.000 [palavras], agora o inglês tem 500.000 e o número está aumentando diariamente. Eles pertencem à nação, são listados em dicionários e cada um de nós tem um estoque útil, como os anglo-saxões chamavam vocabulário, de cerca de 15.000. Isso é 3 por cento do total encontrado no Dicionário Oxford de Inglês, e apenas metade do número usado por Shakespeare. (Singleton, J e Sutton, G, 2000, p.41)
Bem, depois dessa citação, me vi prontinha para desistir de escrever; em inglês, quero dizer. Inglês não é minha primeira língua, portanto, acredito que seja impossível, pelo menos para mim, realmente ter um ‘estoque útil de cerca de 15.000’ palavras. No entanto, é curioso a maneira como acho mais fácil escrever em inglês do que em minha língua materna, o português. Então, como um bom e respeitável soldado, (e atrevida que sou) continuei marchando – e escrevendo.
Eu realmente gostei da maneira como descobri gradualmente as técnicas de escrita que usei para criar Loveandpizza.it. Sempre me considerei uma escritora “intuitiva e impulsiva”.
Obviamente, eu não tinha ideia do que acontecia nos bastidores. Me guiando pela bibliografia do curso, comecei a moldar minha história, timidamente no início, mas tentando usar algumas das ‘técnicas’ mencionadas nas leituras e presentes nos contos que eu estava lendo. E não é que foi bem divertido?
Enquanto escrevia o romance, também usei algumas técnicas de relatos de viagem, que se mostraram preciosas para a conclusão do romance. Observar as pessoas e estar em constante “observação participativa “(Radway, 1997, citado em Alsop, 2005, p.118), abracei minha vida em Nápoles como uma “etnógrafa idealista” e “saudada com entusiasmo pelos membros da comunidade … ‘eu queria’ … observar e ser acolhida no grupo. ‘(Radway, 1997, citado em Alsop, 2005, p.117).
Durante esse período, comecei a escrever “a sério” pela primeira vez. A atmosfera daquela cidade, o caos e os segredos que estavam por trás das paredes dos palácios imploravam para se tornar uma história. Comecei a construir meus personagens com base em pessoas que conheci enquanto morava lá (embora eu já tivesse minha heroína, que foi inspirada na minha irmã caçula, como eu te contei aqui), e comecei a perguntar aos meus alunos sobre coisas que meus personagens provavelmente fariam ou diriam, ou sobre lugares que eles provavelmente iriam em certas situações. O comportamento particular de um napolitano; o dialeto incompreensível que eles fazem questão de usar, especialmente quando eles não querem que você entenda o que eles estão falando; as conspirações da máfia que se pode sentir no ar do Quartieri Spagnoli, onde morei…
Outro autor que inspirou meu trabalho foi Luciano De Crescenzo, cuja voz e anedotas simples e peculiares em seu livro Assim Falou Bellavista (original: Così parlò Bellavista, 1989) ajudaram a criar o clima para as aventuras e histórias de Carolina, assim como me deram uma percepção mais ampla do comportamento do povo napolitano, o que me ajudou na criação dos personagens.
Para melhorar meus personagens e o fluxo da história, eu precisava melhorar meu estilo, e o capítulo do livro “Writing Fiction: A Guide to Narrative Craft” sobre ‘Caracterização’ (Burroway, 2011) foi perfeito para me ajudar com meus diálogos, já que isso era algo que eu nunca considerei ser um dos meus pontos fortes. Gosto de contar histórias, mas quando se trata de deixar os personagens falarem por si mesmos, eu costumava ser bastante insegura. Então, decidi voltar ao texto e passar pelos sinais de pontuação, aspas, itálico, etc. Em sua seção sobre ‘Formato e estilo’ (Burroway, 2011, p.87) aprendi sobre a ‘invisibilidade’ de tags de pontuação e diálogo, como “disse”, “respondeu”, “pensou”, etc. e como isso pode tornar o diálogo/texto ‘mais limpo’ de palavras desnecessárias e como colocá-los no lugar correto para criar o efeito que desejo no leitor. Um exemplo é quando escrevi a primeira conversa de CaroIina e Fabrizio na pizzaria. “Eu” me senti um pouco mais confortável com o diálogo, tentando fazer com que parecesse mais natural. Eu ‘sabia’ que Carolina realmente odiava o fato de ele estar falando com ela por vários motivos (ela era muito tímida, não falava italiano muito bem, ele a ficava encarando o tempo todo, o que a deixava muito desconfortável) . No entanto, Carolina também estava gostando do fato de eles estarem conversando, porque ela sentia uma atração secreta por ele.
Toda essa conversa sobre criar os personagens é super legal, mas não ache que sempre foi um mar de rosas … Houve algumas vezes em que eu simplesmente não conseguia escrever porque estava odiando meus personagens! Sinceramente, a certa altura parei e pulei uma parte, só para poder apresentar um novo personagem que eu já amava, mesmo que ele só tivesse sido mencionado duas vezes, e nem a menção nem tinha sido no bom sentido. Mas eu sabia que esse personagem era tão incrível e queria trazê-lo à vida o mais rápido possível!
Enquanto escrevia Loveandpizza.it (para ser mais precisa, enquanto terminava minha dissertação), perdi minha mãe. Foi um choque e derrubou minha confiança e o meu ânimo. Fiz o máximo possível para atingir o mínimo exigido para me formar e obter meu diploma de mestrado. E então o romance voltou para as profundezas do hard drive do meu laptop..
Em 2015 descobri o NaNoWriMo e decidi que era hora de finalmente terminar de escrever Loveandpizza.it. Foi um mês inteiro (novembro) para escrever 50.000 palavras! E finalmente consegui! Terminei o bendito! Haha. Obviamente que eu precisava editá-lo, mas pelo menos eu finalmente consegui escrever a tão sonhada palavra “Fim”, e todos os meus personagens viveram felizes para sempre!
Pra terminar, deixo com vocês os agradecimentos que escrevi no livro, porque definitivamente não teria sido capaz de terminar sem todas essas pessoas:
Esta longa jornada para escrever meu primeiro romance teria sido impossível sem a ajuda de algumas pessoas maravilhosas: o amor da minha vida, Craig, por seu apoio amoroso, por fornecer os ‘bônuses’ e abraços quando as coisas ficaram difíceis, e quem eu precisei convencer que não, eu não me havia me apaixonado por um pizzaiolo quando morávamos em Napoli! Eu te amo pra sempre. Meu pai, Nelson, por sempre me encorajar a nunca parar de estudar. Minhas ‘asinhas’ – minhas irmãs: Cintia, por ser a inspiração para a heroína desta aventura e por se juntar a mim na exploração de Napoli; e Isabela, por sempre perguntar: ‘Você pode me enviar o resto da história?’ ‘Já terminou?’. Tina Carignani, do DND – Discover Napoli Destinations, por sugestões de lugares românticos e chiques onde Luca poderia levar Carolina. Pip, por sempre estar ao alcance de um post no Facebook durante a fase inicial do romance. Meus leitores beta: Isa, Camilinha, Annelise, Suse e Craig, por suas críticas e sugestões honestas e imparciais. Camila, adorei ler sua história de como você leu Loveandpizza.it! Jesus Vera Vera, pela capa de um livro tão fofa, Marco, novo amigo italiano e consultor culinário/linguístico na última fase do romance. Grazie mille! (Estou ansiosa pelo seu livro de culinária!). Aos meus chefes em Napoli: vocês estão na minha lista de ‘melhores pessoas do mundo’. A alguns de meus alunos napolitanos, que agora são meus amigos e que me emprestaram seus nomes e personalidades para dar vida aos meus personagens. Você sabe quem você é: eu carrego você no meu coração. Obrigado a Napoli, la bella citta que roubou um pedaço do meu coração!
Finalmente, um milhão de agradecimentos a todas as pessoas que comprarão este livro e o lerão sem parar. Cuidado com os efeitos colaterais, como Camila escreveu em seu prefácio!
E claro, não poderia faltar a atualização: o meu agradecimento a querida Farah Serra, por colocar na minha língua materna esse projeto que é a menina dos meus olhos! Obrigada, flor!
E claro, o prefácio, que adoro muuuuito!
~ por Camila Flávia Brandão ~
Quando a Daniela me contou pela primeira vez sobre o enredo desse livro, eu pensei: essa é a aventura dos meus sonhos… Essa personagem tem a ousadia que eu gostaria de ter!
Por isso, foi um privilégio me deliciar com a linda história de Carolina. Mergulhei no universo misterioso do Monte Vesúvio, tive um final de semana memorável na Ilha de Capri, dei boas risadas com os comentários hilários de Lisa, apreciei o pôr-do-sol em ótima companhia… Mas é preciso que você saiba: essa leitura causa efeitos colaterais.
Comigo, o efeito colateral mais rápido foi a busca desesperada por música italiana para acompanhar minha leitura, que teve seu ápice quando me peguei interrompendo tudo para procurar “Who the hell is Umberto Tozzi?”. O que se seguiu ao longo dos capítulos foi começar a agradecer tudo em casa com “grazie mille”, o que também culminou em uma pesquisa, daquelas meio descompromissadas, por um curso de italiano. Também lembrei o marido sobre nosso plano adormecido de pesquisar sobre nossos antepassados italianos. Precisei fazer uma pausa nas minhas pesquisas para ir à cozinha preparar um cappuccino – mesmo não sendo hora do café da manhã. Quem se importa? Fabri não estava vendo, mesmo…
O efeito colateral mais intenso – e que complicou minha dieta – foi pedir pizza, obviamente. Isso porque eu não tinha ingredientes para preparar a minha própria, pois tudo o que eu mais queria era, literalmente, colocar a mão na massa. A vida depois de uma pizza Marguerita fica bem melhor, confie em mim!
Mas sabe qual o efeito colateral mais importante? É ao final da leitura, perceber que há um pouco de Carolina em cada um de nós… Nos identificarmos com essa personagem que fez algumas besteiras, sentiu tanto medo, fez coisas inacreditavelmente contraditórias e acima de qualquer coisa, tentava ser feliz… Como qualquer uma de nós, meninas.
Sim, você irá pedir pizza, perder a parada do metrô em meio às doces palavras do Fabri, irá buscar cursos de italiano, começará a procurar uma promoção de passagens aéreas para Napoli, desejará cappuccinos em horas impróprias… Porque a escrita delicada, cativante e bem humorada de Daniela nos faz sonhar.
Fico muito feliz que você esteja prestes a embarcar nessa jornada também. Loveandpizza.it irá encantar você e ao final da leitura irá deixar um gostinho de quero mais.
Buona lettura!
Espero que tenham gostado. Acho que agora vocês estão prontos para conhecer os personagens, né? Que tal começar com a Carolina? É só clicar na imagem abaixo.