Sempre fui fascinada pela morte; não que eu entendesse por que as pessoas morrem. Eu tinha perdido algumas pessoas importantes na minha vida, mas para mim, ainda assim, a morte era uma coisa totalmente desnecessária, horrível, horrível, e “Por que eles tinham de morrer?” era algo que eu sempre me perguntava. No entanto, a morte me fascinava, então, quando Fabrizio me contou a história de uma igreja na Via dei Tribunali, eu sabia que teria que visitá-la. Só que o plano era visitá-la com ele, não sozinha … A igreja tinha um nome gigante e difícil de pronunciar, mas eu adorava recitá-lo, imitando um sotaque italiano: Santa Maria delle Anime del Purgatorio ad Arco.
Quando passei por esta igreja pela primeira vez, no dia em que ele me levou à Napoli Sotterranea, e li a placa para na frente da igreja, fiquei arrepiada. Ele riu, me abraçou e me ajudou a ler a placa em italiano. De acordo com o ela, a igreja havia sido construída em dois níveis, para representar os dois mundos: o primeiro nível representa a dimensão terrena e espiritual; o nível inferior, uma cripta de concreto fria e assustadora, representa o purgatório. Ele me disse que a igreja havia sido construída e usada clandestinamente por devotos católicos que “adotavam” uma caveira para cuidar e, com suas orações, ajudavam os mortos a libertarem suas almas do fogo do Purgatório e subirem ao céu. Quão nobre e gentil, pensei. ” ~ Carolina, em Loveandpizza.it – Capítulo 42
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Desde a primeira vez que fui a Napoli, quando meu marido e eu nos mudamos para lá para trabalhar, eu quis visitar esta igreja. É realmente um nomão: Chiesa di Santa Maria delle Anime del Purgatorio ad Arco, que significa Igreja de Santa Maria das Almas do Purgatório (ad Arco). Não apenas o nome é longo o suficiente para você brincar de trava-língua em italiano, o fato de haver uma caveira de bronze bem na parte inferior dos degraus de entrada da igreja sempre foi um atrativo extra.
Assim como Carolina, sempre fui fascinada pela morte; não no sentido mórbido, se é que você me entende, mas em todas as questões sobre o que acontece quando morremos. Por preguiça, eu acho, ou apenas tendo assumido que teria muito tempo para visitar a igreja, eu nunca tinha realmente investigado que igreja era aquela. Eu havia lido em nosso guia que havia uma cripta, mas isso era tudo que eu sabia. Ironia ou não, durante os nove meses que vivemos lá, toda vez que passávamos para visitar, estava fechado.
Foi apenas 3 anos depois, quando voltei lá para fazer pesquisas para terminar de escrever Loveandpizza.it, que consegui, finalmente, visitá-la. Como um bom turista, desta vez tinha lido mais sobre a igreja na Internet e sabia exatamente o que esperar. Enquanto esperava pela guia que nos levaria à cripta, uma jovem que imaginei ser uma estudante universitária, caminhei ao redor da pequena igreja, lendo todas as placas que encontrei enquanto apertava minhas mãos de ansiedade. Uma parte importante do romance seria escrita naquela noite, quando eu voltasse pra casa.
E foi exatamente assim… E eu digitei por horas no meu quarto na casa de uma verdadeira mulher napolitana, minha anfitriã por aquelas duas semanas de descoberta. Fixada na tela do meu laptop, rodeada de panfletos explicativos, pesquisando a fundo sobre pinturas e esculturas, revendo as fotos que havia tirado naquela tarde, e relembrando (e revivendo) cada arrepio que tive enquanto ouvia as histórias das guias, me perdi nas palavras e dei”vida” a Lucia que, com sua risada juvenil contagiante e planos mirabolantes, ajudariam Carolina a reconquistar seu amor. (uh-oh alerta de spoiler!)
(da esquerda para a direita, acima: o crânio que sua e “O Capitão”; abaixo: o crânio de Lucia, com cartas, flores e fotos trazidas por devotos. Fotos de arquivo pessoal)
Vídeo e mais informações sobre a igreja (em italiano e inglês) : www.purgatorioadarco.it